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18.5.11

BIRRE E A SUA FONTE



FONTE DE BIRRE ( Foto de J.P.L. Ano 2011 )

 A FONTE DATADA DE 1942  ( Foto de J.P.L. Ano 2011 )



                                        
                                             
      " Ali na fonte de Birre, no dia da abertura, Juntavam-se quase todos os caçadores de Cascais.
 Eram o D.Frederico Amial, o Dr. Crespo, os Praias, os Arnosos,o Ereira e os Vilares, os Cardadores, era o pai do João, e o próprio João, o António Crespo, o Fernando Ferraz, o Jaime Amial, o André Pais.

   Naquele ano até o velho Visconde de Atouguia lá estava, tendo ao lado, sentado com muita compostura, o seu fiel Tejo.

   De Cascais tinham ido, com os almoços, duas carrocinhas puxadas por burros, que chegaram primeiro que os caçadores.

   Aquela almoçarada na fonte de Birre, no dia da abertura, era uma velha tradição.
 Ali se juntavam os melhores e os mais conhecidos caçadores. 
Encostavam-se as espingardas ao muro da vinha, fazia-se uma grande roda, punham-se no meio os cestos, donde cada um se servia à vontade.
 Era uma espécie de almoço comunitário. João adorava aquele almoço, as histórias de caça contadas pelos caçadores mais velhos, as espingardas que o maravilhavam como as Purdays e as Holands.

   Além do João Cardador, também lá estava o António Pé-Leve, que caçara muitas vezes com o Rei, e era filho do primeiro Pé-Leve, cuja alcunha lhe tinha
sido posta pelo Rei D.Luís.

   Augusto Lopes, o primeiro da dinastia dos « Pés-Leves», quando encontrava as primeiras galinholas, depois da chegada do Rei, em geral por meados de Outubro, não as caçava, guardando-as para D. Carlos, sabendo que ele gostava muito de as ir levantar.
 Então ia à Cidadela onde dizia à sentinela: " Diga a Sua Magestade que está uma galinhola ( ou uma bicuda ), que era como o Rei as chamava, no Cabeço das Rolas e ficava à espera da resposta que muitas vezes não se fazia esperar; 
 
O Pé- Leve que espere, que Sua Magestade vai já com ele à Marinha ".

   A história dessa alcunha é muito interessante e a família Pé-Leve tem o maior orgulho nela, considerando-a como um título.

   O Senhor D. Luís, pai de D.Carlos, quando ia à caça levava muitas vezes consigo Augusto Lopes, por ser um óptimo caçador, e sempre que o levava reparava na sua resistência e na facilidade com que saltava os muros de pedra solta que abundavam no concelho. 

E um dia o Rei, comentando isso, disse:

" Aquele Lopes é formidável, tem mesmo o « pé leve ».
 Depois, quando queria mandar-lhe algum recado, dizia: " Digam ao «Pé-Leve».

Fora assim que a alcunha ficara. (...)

   Aqueles almoços de Birre eram democráticos, juntavam-se ali todos os caçadores, sem qualquer distinção de classes, desde os fidalgos até ao povo.

A hierarquia que ali se respeitava era a hierarquia venatória.

 A quem caçava e atirava melhor é que era dada a maior importância, mantendo assim a tradição que vinha do tempo do Rei D. Carlos, que acamaradava muitas vezes com os melhores caçadores de Cascais, independentemente da sua classe social.


" Daqui a pouco onde é que os caçadores podem caçar?

 " Dizia o velho Visconde de Atouguia no meio deste almoço.

 No entanto, naquele tempo,as casas eram raras e o terreno de caça era quase todo.

O que seria dele se tivesse visto,como nós agora vemos, o concelho de Cascais quase completamente coberto de casas, sem um único sítio onde se possa esconder uma perdiz? *



" Os Valares "
 Pedro Falcão
 Edição da A.L.A Associação de Letras e Artes.
 "  "    " da Junta de Freguesia de Cascais.